sábado, 7 de novembro de 2015

O Parto dos Gémeos

Finalmente tenho um tempinho livre (cerca de 1h até dar de mamar a um deles) para contar como foi o parto dos gémeos.

Como sabem, fui seguida durante toda a gravidez na Maternidade Alfredo da Costa, visto que o tratamento FIV/ICSI que teve sucesso foi feito lá, e como tal, tive direito a ser lá seguida durante a gravidez. Foi uma gravidez de risco, por ser uma gravidez gemelar, com o risco de poderem vir a nascer prematuros ou muito prematuros (é normal isso acontecer com uma gravidez de gémeos) e por isso foi uma gravidez acompanhada de perto com mais consultas, ecos, CTGs que uma gravidez normal de só um bebé. Estive decidida a fazer o parto dos gémeos na MAC, mas o medo de falta de apoio durante o parto (o parto de gémeos na MAC é sempre feito no bloco e por isso não permitem acompanhante) e no internamento do pós-parto fez-me mudar de ideias, e por isso fiz o parto nos Lusíadas (caso passasse das 34 semanas de gestação, senão os Lusíadas teriam de me encaminhar para a MAC), onde o pai pode estar presente no parto de gémeos (quer seja cesariana ou parto normal) e pode dormir lá, ajudando a mamã no que puder (visto que se fica muito debilitada fisicamente e tratar de 2 bebés não é fácil), e ainda, as visitas ficam com um horário muito alargado (das 10h às 22h) para poderem estar presentes no horário que lhes for mais conveniente.

Desta forma, mantive as consultas da MAC e tudo o resto até ao final. Quando fiz as 34 semanas anunciei na MAC que o parto seria noutro lado, mas que sendo uma gravidez de risco, que iria fazer ali na MAC o acompanhamento até ao fim, porque se aparecesse algum problema, o parto seria feito na MAC - a saúde dos bebés sempre em primeiro lugar. Mas como não apareceu nenhum problema, fez-se o parto nos Lusíadas.

A posição dos bebés na minha barriga ditou o tipo de parto que seria necessário para poderem nascer (opinião consensual na MAC e nos Lusíadas): como eles estavam transversos (deitados), não tinham espaço para dar a volta, logo a única forma de nascerem era através de cesariana. Na MAC, a Dra Teresinha (a especialista de gémeos) recomendou que o parto de gémeos não devia chegar às 38 semanas, que deve ser feito às 37 semanas.
E assim se marcou a cesariana programada para as 37 semanas + 5 dias (sexta-feira dia 16 de Outubro), marcada no dia em que fui fazer o único CTG nos Lusíadas (os CTGs na MAC tinham acabado na semana anterior), para as 14h.

Às 8 da manhã de sexta feira dia 16 de Outubro, fiz a última refeição antes de entrar em jejum para a cesariana.
Dei entrada no internamento às 11h, fui a uma consulta rápida com 2 médicas (que suponho que fosse a consulta de anestesia, pelo carácter das perguntas que me fizeram) e como não havia quartos disponíveis naquele momento, fui encaminhada para uma sala do bloco de partos, onde fiquei deitada, fui sendo monitorizada com CTG, foram verificando a minha tensão arterial... Foi ali que me colocaram o soro na mão esquerda (sempre fui muito mariquinhas com a agulha do soro, sempre me fez doer), mas o soro era um soro especial, açucarado, porque informei que estava com diabetes gestacional (tal como a dra da nutrição me tinha dito para fazer, para avisar da diabetes). Estive ali deitada sozinha talvez durante 1h, sentia-me stressada com tudo o que se iria passar, tinha um relógio grande na parede à minha frente e restava-me olhar para os ponteiros a passar. Fechei os olhos e tentei fazer alguma terapia de relaxamento, imaginando-me num sítio onde já estive e onde me senti bem, tentando visualizar os pormenores desse sítio. Imaginei-me nas Maldivas, a fazer snorkeling e a ver muitos peixinhos coloridos, a ver a barreira de coral, a ver a praia magnífica com aquele azul lindo turquesa no mar. Fui interrompida neste pensamento pela chegada do meu marido, que finalmente apareceu vestido de bata azul e pode permanecer ali comigo a ocupar o resto do tempo com conversa. Pedimos para ligar a música na sala e estivemos a ouvir as músicas que iam passando na Rádio Comercial. Entretanto ele diz-me que rasgou as calças, precisamente no meio das pernas, e fartei-me de rir, e ria, ria de tal maneira que o CTG abanava todo e deixava de apanhar os batimentos cardíacos, mas com as minhas mãos lá reposicionava o CTG e voltava a apanhar tudo. Assim se passou o tempo num instante até às 14h, altura em que me foram buscar para fazer a epidural, já no bloco onde seria a cesariana.

No curso de preparação para o parto, tinham dito que na epidural só custava a picada inicial, que era só uma injecção para adormecer a pele, e depois seria inserida a agulha por onde passaria o cateter que ficaria alojado na coluna, mas que isso já não doia. Pois, comigo foi ao contrário, senti a tal picadinha para adormecer a pele, mas depois a parte da inserção da agulha doeu, doeu de tal forma que arqueei a coluna (não o devia ter feito, mas não consegui evitar) quando senti a dor. O anestesista era muito simpático e ia dizendo tudo o que estava a fazer, para eu não me assustar com o passo seguinte, avisou que iria sentir uma pressão na coluna (que senti), avisou que ia sentir um choque na perna direita (que senti) e avisou que ia sentir as pernas dormentes (e senti). Levei 2 epidurais, não sei se foi por causa de eu ter arqueado a coluna ou se foi mesmo preciso levar 2. Ou seja, passei por aquela dor da epidural 2 vezes. Eu suava por todos os lados, suava e respirava rapidamente, de tão assustada que estava. Suei tanto que até se descolou o autocolante do peito, da monitorização cardíaca. A posição em que me mandaram estar, para levar a epidural, foi deitada de lado, com as pernas encolhidas o máximo possível e com o queixo a tocar no peito. Tinha uma enfermeira a bloquear as minhas pernas com o corpo dela, para eu não mexer as perninhas, e a segurar-me a cabeça, para não mudar de posição. Perante o cenário de dor que estava a passar, ela ofereceu-me a mão dela para eu apertar... e eu apertei tanto, coitada, foi uma querida.

Epidural estava dada e estava a fazer efeito. O anestesista disse que seria normal eu sentir-me enjoada com a epidural, mas não senti o enjoo. Fui algaliada, já com a epidural, para não fazer xixi para onde não devia. Sentia a perna direita completamente dormente, e a esquerda não sentia toda dormente e conseguia mexer o pé. Perguntei se era normal e disseram que sim, que era normal. Depois perguntei se caso me assustasse com alguma coisa, se ia conseguir mexer a barriga sem querer (já que conseguia mexer o pé) e disseram-me para não me preocupar com isso, que não ia mexer-me. O que é certo é que nem dei conta de me fazerem o corte na barriga. Nessa altura já tinha um paninho verde a bloquear a minha vista, para eu não ver o que me estavam a fazer na barriga. O anestesista esteve sempre ao meu lado e ia metendo conversa, para me distrair.
Já tinha começado a cesariana quando deixaram entrar o marido na sala, e mandaram-no sentar-me atrás de mim. Eu nem sabia que já estava de barriga aberta quando ele entrou (ele é que me disse, e avisaram-no para não olhar quando passasse ao meu lado). Na MAC, a anestesista tinha-me dito que com a epidural ia sentir mexerem no meu corpo, mas não iria sentir dor. De facto, sentia estar a ser abanada na barriga por todos os lados, mas nem sabia o que me estavam a fazer... num instante ouço dizer que o 1º gémeo já ali estava fora e baixaram o pano para eu ver... e vi um bebé a chorar, barrado com aquela coisa que parece margarina, que trouxeram até mim para eu dar um beijinho na testa. E assim cumprimentei a Inês. Estava abananada por ver um bebé que tinha acabado de sair de dentro de mim, e uma emoção enorme tomou conta de mim e desatei a chorar. Eram 14h50. O marido foi atrás da bebé, para acompanhar o registo do peso e tudo o resto, ali mesmo ao meu lado esquerdo, e eu a ver tudo. Mais uns abanões na barriga para um lado e para o outro e 4m depois, estavam a dizer que estava ali o 2º bebé, também baixaram outra vez o pano para eu ver. E eu abananada com aquilo tudo. Os bebés tinham nascido!
De seguida, desliguei do que me estava a ser feito durante a cesariana, porque tinham colocado os dois bebés em cima do meu peito, e eu queria vê-los, conhecer aquelas caras com quem tinha vivido todos estes meses sem nunca os ter visto, os meus filhos (dizer "os meus filhos" soa a estranho, não estou habituada a dizer isto). O meu marido segurou-os em cima de mim e de seguida ele foi vestir a primeira roupinha nos bebés, ali do meu lado esquerdo. Passou-me a máquina fotográfica para a mão e estive a fotografá-lo enquanto ele os vestia... e a cesariana continuava a decorrer, mas eu continava a ignorar tudo o que me estavam a fazer na barriga. Terminou a cesariana, mudaram-me da mesa de operações para uma cama, colocaram-me os bebés um em cada braço e fui levada para a sala do recobro, onde ambos os bebés foram colocados logo a mamar (e tinha já colostro para lhes dar).

Foi tudo maravilhoso (excepto a tal dorzinha da epidural, mas isso é o menos) e não trocava aquele parto nos Lusíadas por outro parto (o da MAC). Valeu a pena ter tido o marido presente na cesariana, tornando aquele momento do parto num momento muito humanizado, com uma excelente vivência de bem estar.

O resto da história, do internamento, vai ficar para outra vez... já está na hora de dar de mamar a um dos gémeos.

2 comentários:

  1. A epidural também não foi fácil para mim, com a agravante de estar com as dores fortíssimas das contrações... E o anestesista não era nada simpático, pelo contrário... Mas o alívio que senti logo a seguir foi tão tão tão bom que nem quero imaginar o que seria não haver epidural!

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    1. O que vale é que a epidural foi o uma dor de curta duração. Se eu soubesse que doia como doeu, talvez já fosse mais mentalizada... Mas concordo, nem quero imaginar como seria um parto sem epidural!

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