quarta-feira, 18 de abril de 2012

Artigo da Revista Activa: Estamos a ficar menos férteis?

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O adiar da maternidade, estilos de vida pouco saudáveis, mas também o que comemos e a poluição que nos rodeia estão a afectar a fertilidade de homens e mulheres. Saiba porquê e como reverter a tendência.


Crê-se que um em cada 10 casais portugueses tenha problemas em conceber - as estatísticas mundiais rondam os 15% da população.

Segundo a Sociedade Portuguesa de Medicina de Reprodução, são 500 mil indivíduos em idade fértil e cerca de 10 mil novos casos por ano. "Aparecem mais pessoas à procura de tratamentos de fertilidade", confirma Daniela Sobral, especialista em Medicina Reprodutiva no Hospital dos Lusíadas (Lisboa) e membro da Associação Portuguesa de Fertilidade. Um facto que não é alheio às mudanças sociais: hoje, os casais têm acesso ao planeamento familiar, querem estabilizar a vida profissional e financeira antes de se lançarem na aventura da paternidade; as mulheres planeiam ter menos filhos e mais tarde, o que compromete o pico da fertilidade. Para uma mulher saudável, ele acontece, em média, pouco depois dos 20 anos, justamente a altura em que mais evitamos filhos.

Mas, mesmo que nada tivesse mudado a nível social, os especialistas acreditam que não temos hoje o mesmo potencial de fertilidade dos nossos avós. Porquê?

Uma hipótese em cinco
"Para começar, não somos uma espécie muito fértil", revela Daniela Sobral. "Um casal perfeitamente fértil, que tenha relações durante a ovulação, tem apenas 20% de probabilidade de engravidar." Porquê tão pouco? Primeiro, nada garante que óvulo e espermatozóide se encontrem. E, mesmo quando se encontram, muitas gravidezes nunca vão avante - a taxa pode chegar aos 60% em cada mulher - ou porque a implantação no útero não aconteceu da melhor maneira ou por alterações cromossomáticas. "É um controlo de qualidade da Natureza. A mulher nem se apercebe que esteve grávida. Mas, ao final de um ano de relações sexuais, normalmente 90% dos casais consegue uma gravidez. É por isso que só falamos em infertilidade quando um casal tem relações sexuais regulares e desprotegidas há mais de um ano sem conseguir conceber."
A infertilidade trata-se sempre no âmbito do casal e nunca em indivíduos isolados - são preciso dois para dançar tango; para conceber também. "Os casos de infertilidade - ou esterilidade, como se chamava antes - são raríssimos", explica-nos Daniela Sobral. "O que temos mais são casos de subfertilidade, ou seja, um pouco menos de capacidade de conseguir uma gravidez e mais demora a conceber."
Actualmente, segundo a especialista, crê-se que cerca de 40% das causas de infertilidade estejam ligadas à mulher, 40% ao homem, havendo ainda 10% de infertilidade mista (presente em ambos os parceiros). Os restantes 10% são de causa desconhecida.

O factor idade
A idade em que a mulher planeia engravidar é principal causa isolada para a subfertilidade. Injusto mas, quando julgamos ter mais maturidade e a vida mais estabilizada para criar um filho, a Natureza troca-nos os planos.
Quando nascemos, já trazemos todos os ovócitos que teremos disponíveis para o resto da vida. "Não há renovação; é aquela quantidade e não há mais", explica Daniela Sobral. "Quando a mulher chega a uma certa idade tem um número menor de ovócitos, para além da qualidade também ser menor. Alguns estudos apontam para o facto de os primeiros ovócitos a serem seleccionados serem os de melhor qualidade." Assim sendo, o nosso organismo começará a seleccionar para a ovulação o melhor material genético, desde a primeira menstruação. "Faz sentido que assim seja. É uma selecção de qualidade da Natureza. Se tivesse uma empresa, quem recrutaria primeiro: os melhores ou piores candidatos?" Esta diminuição da qualidade e quantidade começa cedo, ainda antes dos 30 anos, atingindo uma queda acentuada a partir dos 38. "É claro que esta idade varia de mulher para mulher: em algumas só se regista aos 40, em outras, aos 32. Até aí, há uma descida lenta e gradual, mas a partir dos 38, a queda é a pique."

Os homens estão mais inférteis
Mas são os homens quem parece manifestar resultados mais preocupantes no capítulo da infertilidade e os cientistas crêem que isso se deve a factores ambientais, como poluentes e alimentação. Vários estudos mundiais confirmam que a concentração e mobilidade dos espermatozóides diminuiu nos adolescentes de hoje. Em condições normais, um homem produz 100 milhões de espermatozóides por ejaculação. Se produzir menos de 20 milhões, considera-se que a sua fertilizada está seriamente comprometida. "Num estudo recente feito com rapazes de 18 anos, descobriu-se que um em cada cinco é subfértil. Isso pode ter a ver com diversos factores, ambientais ou de alimentação", informa Daniela Sobral.
Nos últimos anos, o aparecimento de patologias como a doença das 'vacas loucas' fez-nos alterar hábitos alimentares. Os homens que substituíram carne e leite de vaca por soja e seus derivados - e os consumem regularmente - podem ter alterado os seus padrões de fertilidade, segundo Daniela Sobral. A soja contém estrogénios naturais, hormonas mais presentes nas mulheres. "Por outro lado, também a carne de vaca e lacticínios, bem como frango, estão cheios de outras hormonas. São fenómenos recentes e ainda não há muitos estudos aprofundados mas começa a ser preocupante."
Nos homens, a renovação de esperma dá-se a cada dois ou três meses. "Há muitas coisas que podem interferir na qualidade e produção de espermatozóides. O aumento da temperatura testicular é um deles. Um homem que tenha estado com febre terá a qualidade do seu esperma alterada. Se trabalhar em condições que façam aumentar essa temperatura, também. É o caso de cozinheiros, ferreiros, motoristas de longo curso, praticantes de BTT, mas também quem faz banho turco ou sauna duas ou três vezes por semana, usa o computador portátil no colo ou calças e cuecas muito justas."

Por: Por Cristina Tavares Correia
29 Março 2012, às 18:33
Em: http://activa.sapo.pt/belezaesaude/saude/2012/03/29/estamos-a-ficar-menos-ferteis

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